sábado, 6 de dezembro de 2008

As cidades Jardins : Solução do problema urbano.

1. Introdução


Na Inglaterra, no final do século XIX, com o grande crescimento da população urbana, Ebenezer Howard surgiu com uma proposta inovadora: conciliar as vantagens da cidade e do campo em um só espaço, criando assim um espaço com mais qualidade de vida para os habitantes.


Com grandes influências do período Arts and Crafts, as cidades-jardins de Ebenezer Howard foram bem sucedidas quando executadas e influenciaram construções no mundo inteiro.
Howard, com sua proposta, tinha a intenção de resolver os problemas decorrentes da urbanização, como: pobreza, falta de moradia, de coleta de lixo, de rede de água e esgoto, moradias não planejadas, poluição, falta de entretenimento, e a destruição do ambiente e escassez dos recursos naturais. Ele acreditava que a integração da cidade e do campo garantiria a combinação entre as vantagens da vida urbana e a qualidade de vida do campo.



Ebenezer Howard


Para isso existiu um planejamento regional, com dados e instruções sobre o tamanho, numero de habitantes, funcionamento e despesas de uma cidade-jardim. Todo esse planejamento foi exposto por Howard em seu livro Tomorrow: a Peaceful Path for True Reform (1898), reeditado em 1902 com o título Garden Cities of Tomorrow.



2. A proposta de Ebenezer Howard



Inicialmente, Howard utiliza diagramas para justificar a necessidade da criação de uma cidade-jardim. Este diagrama mostras as vantagens da vida no campo e da vida na cidade, mostrando também as desvantagens, para então fazer a combinação dos dois e montar um lugar só com vantagens. Esse diagrama, mais conhecido como “Os Três Ímãs”, ainda traz no centro as pessoas e logo abaixo a pergunta “Where will they go?” (Aonde eles irão?).


A intenção de Howard com esse diagrama é mostrar que o lugar mais atrativo (por isso a figura dos ímãs) para as pessoas seria a cidade-jardim, pois lá seria o lugar perfeito, a combinação das vantagens de se viver em um lugar urbanizado, mas também com todas as possibilidades de crescimento que o campo também proporciona.




"Os Três Ímãs", diagrama que associa as vantagens da cidade com as do campo, justificando assim a existência de uma cidade-jardim.


Os Três Ímãs

Cidade

Afastamento da natureza
Isolamento das multidões
Distancia do trabalho
Aluguéis e preços altos
Jornada excessiva de trabalho
Nevoeiros e seca
Ar pestilento e céu sombrio
Cortiços e bares
Oportunidades sociais
Locais de entretenimento
Altos salários monetários
Oportunidades de emprego
Exercito de desempregados
Drenagem custosa
Ruas bem iluminadas
Edifícios palacianos

Campo

Falta de vida social
Desemprego
Matas
Jornada longa – salários baixos
Falta de drenagem
Falta de entretenimento
Falta de espírito publico
Casas superlotadas
Beleza da natureza
Terra ociosa
Bosques, campinas, florestas
Ar fresco – aluguéis baixos
Abundância de água
Sol brilhante
Carência de reformas
Aldeias desertas

Cidade-campo
Beleza da natureza
Campos e parques de fácil acesso
Aluguéis baixos
Oportunidadespara empreendimentos
Ar e água puros
Residências e jardins esplêndidos
Liberdade
Oportunidades sociais
Muito o que fazer
Nenhuma exploração
Afluxo de capital
Boa drenagem
Ausência de fumaça e de cortiços
Cooperação




O projeto da cidade não poderia ter iniciado até que o terreno para a construção tivesse sido comprado. Este era colocado no nome de um industrial de responsabilidade que, com os lucros da cidade-jardim, seria “recompensado”, lucro esse que também serviria para melhorias da estrutura da cidade-jardim.
Esta deveria ser circular, no centro estariam concentradas as atividades comerciais e administrativas. As terras do meio seriam destinadas à habitações, que deveriam ter um jardim. As atividades industriais se concentrariam na periferia, que fica próxima à linha férrea, o que facilitaria o escoamento da produção da cidade-jardim.


No total, a cidade-jardim deveria ter 2.400 hectares para uma população de 32.000 pessoas. A área rural deveria ter 2.000 hectares e 2.000 habitantes, outros 400 hectares seriam destinados à área urbana com 30.000 habitantes, que seriam divididos igualmente em seis partes constituintes da área urbana.

Quando uma cidade atingisse sua capacidade máxima, com cerca de 58.000 habitantes, novas cidades deveriam ser criadas ao redor desta, formando assim uma rede de cidades ligadas por rodovias e ferrovias, tendo como cidade central, aquela que conseguiu atingir 58.000 habitantes.






3. A concretização das cidades-jardins: Letchworth



Howard fundou a Associação para as Cidades-Jardins em 1898, o que foi o passo inicial para a fundação da primeira cidade-jardim. Letchworth, fundada em 1902 e construída em um terreno adquirido por Howard a 56 quilômetros de Londres.


Vista aérea de Letchworth, a primeira cidade-jardim, no início do século XX.



Em 1913 a cidade tinha somente 8.500 dos 30.000 habitantes que eram esperados no projeto e somente em 1962 atingiu 26.000 habitantes. Letchwort tem um traçao simples, claro e informal.


















Welwyn

Construída a quinze quilômetros de Letchworth, Welwyn foi projetada para abrigar 40.000 habitantes podendo atingir 50.000 em uma área de 962 hectares, sendo 525 de área urbana. Essas duas cidades não conseguiram alcançar a autonomia que Howard pretendia e acabaram tornando-se cidades pertencentes à Londres.





Após o inicio da concretização das cidades-jardins na Inglaterra, o conceito foi adotado por outros países e empresas. No Brasil, a Cia City foi responsável pelo projeto de bairros que tinham como base a idéia de aproximação do campo das cidades-jardins. Bairros como o Alto da Lapa (1921), o Alto de Pinheiros (1925) e o Butantã (1935). Nestes bairros é utilizada a arborização para criar um ambiente natural e um visual agradável e uma estética diferenciada, o que valoriza o local.

4. Conclusão


O conceito das cidades-jardins acabaram não sendo aplicável, o que fez com que tivessem o efeito contrário do pretendido, o de suburbanização, e mesmo a tentativa de aproximação do campo não acabou sendo aplicável e foi substituída por novos modelos arquitetônicos mais modernos. Esses modelos aproveitavam toda a área para construções visando à praticidade, pois mais a população urbana não deixava de crescer e crescia com ela suas exigências.
É importante ressaltar que uma vida integrada entre cidade e campo é perfeitamente possível, o primeiro passo já foi dado com as propostas de Howard. Mas como todo projeto pioneiro as cidades-jardins de Howard também tem seus pontos que não são aplicáveis e que devem ser repensados para terem uma maior aplicabilidade hoje em dia.






5. Referências Bibliográficas


FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 41 – 51.
HOWARD, Ebenezer. Cidades-Jardins de Amanhã. São Paulo: Hucitec, 1996.
Sites:
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq042/ _ arq04202.asp
http://www.sampaonline.com.br/postais/pinheiros2005jul17altodalapa.jpg
http://www.portaldeaguas.com.br/portal/det_servico.asp?cod_sub_menu=145
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Jardim_(teoria)
http://www.aultimaarcadenoe.com/urbanismocidadesjardins.html